quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sem titulo, ainda.


Peguei as chaves e fui. Sem destino, sem razão, nem a tristeza e tampouco a felicidade me atormentaram nessa breve viagem inesperada. O impulso não foi espontâneo, tive que me algemar na idéia de segui-lo livremente. A cada retorno que eu via na avenida, sentia meus braços trepidarem levemente, mas o carro só acelerava. Sentia vergonha daquela imagem que refletia no painel me encarando, seu olhar pedia, saudosamente, a vontade e personalidade que possuí outrora, mas que se queimaram como gasolina.

Deixando todos os retornos no retrovisor, uma longa reta me esperava. Botei a mão para fora da janela, o vento era forte, inclinando minha mão para cima ele a levantava. A sensação era de que o vento se chocava com meu corpo com tamanha força que atravessava minha pele, músculos e vísceras, inoculando mais emoção em minha alma. O carro acelerava cada vez mais, não para fugir dos retornos, nem para ter mais vento, apenas tinha medo de entrar nos becos, vilas, ruelas.

Os braços antes contidos quando nos retornos, matinham-se inertes na reta. Cada placa de desvio que avistava, meu coração subia até minha boca, junto com o frio que dominava toda minha barriga. Fingia que não tinha visto as sinalizações, mas o olhar que vinha do painel me condenava. E sem qualquer preparação, premeditação ou aviso meus braços simplesmente puxaram o volante para a esquerda.

Apesar de proveitosa, a viagem ainda continuava sem destino e razão. Foi então que cheguei em meu destino, a linha férrea, enquanto vinha o trem, que encontrei uma razão. Ouvia gritos mandando inutilmente ‘Saia, olhe o trem’, mas meus braços e pernas pediam a liberdade de ficar. Eu já sentia o carro tremer e não escutava mais os gritos devido o barulho do trem que chegava, quando coloquei o braço para fora do carro mais uma vez. O vento ainda estava lá. O painel refletia uma imagem de olhos fechados. E foi no meu penúltimo ‘último suspiro’ que encontrei a chave das algemas. E senti que para usufruir da minha liberdade não precisava contrariar a ordem dos outros.


domingo, 12 de julho de 2009

Tributo à morte

Queria ter a Vida como amiga, mas ela é tão bela como traiçoeira. A Vida está perto no momento que se encontra nos olhos de alguém o Amor; no momento de diversão com os amigos, no momento que se faz um pedido para uma estrela cadente e no momento que se sente a brisa leve diluir o calor vindo da aurora.
É óbvio que a Amizade é solidificada nos momentos de Tristeza e necessidade. Quando no fundo do poço com uma colher empunhada para se aprofundar mais o leito sobre o qual se sustenta e, talvez, encontrar um pouco de água para se afogar; amigo é aquele que estende a mão. Onde está a Vida nessa hora? Quem afaga, abraça e cuida é a Morte. Ela é a única a acalentar e a apresentar uma solução para a Dor e o Sofrimento.
Sigo com a Morte do meu lado, ela é a luz que incide sobre minha cabeça, a luz do meu túnel vertical. Sei que quando me cansar de cavar, procurando a saída do meu claustro, ela estará ali, me esperando, e finalmente deitarei junto à ela.