quinta-feira, 21 de março de 2013

Noite na cidade


Vejo pela janela
outras janelas
cintilando harmônicas,
sintonizadas no mesmo canal.
Vejo sacadas vazias.
Socadas no sofá, pessoas catatônicas
atraídas pelo brilho sintético
de uma tela de 42 polegadas.
Na janela, flores de plástico.
Uma toalha suicida se joga do
décimo primeiro andar.
Se contorce freneticamente
num mergulho rodopiante,
um parafuso de pelúcia
cai sobre a chaminé do vizinho.
Gatos pretos solfejam miados agudos,
clamando por atenção.
A lua cheia se apaga,
mas ninguém olha para cima.
Uma vida inteira se passa
e as janelas continuam a cintilar
no mesmo canal.
Nuvens vazias cobrem o céu estrelado.

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